Carboidratos em gemas, fertilidade e qualidade vitienológica em videiras Syrah (Vitis vinífera L.) sob sistema de dupla poda no cerrado de altitude brasileiro

Syrah; Cerrado de altitude; Fertilidade de gemas, Reserva de carboidratos, Manejo de poda.

As novas fronteiras vitivinícolas brasileiras se estendem por diversos Estados e se estabelecem em quase todas as regiões do Brasil, incluindo o Cerrado de Altitude da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE-DF). Caracterizada por suas condições tropicais de elevada altitude, a viticultura local adota práticas específicas como o manejo de dupla poda. A dupla poda é ajustada para que ocorra uma poda de formação e uma poda de produção, resultando em uma colheita anual entre os meses de julho e agosto. A diferenciação e o desenvolvimento das gemas da videira ocorrem em dois ciclos distintos e são essenciais para a formação das gemas férteis, que influenciam diretamente na produtividade da videira com o manejo da dupla poda. A indução e diferenciação floral, que levam à formação das estruturas reprodutivas, é um processo complexo dividido em três etapas: formação do anlage (primórdio indiferenciado), desenvolvimento do primórdio de inflorescência e, por fim, o desenvolvimento das flores. No manejo de dupla poda, as etapas iniciais de formação do anlage e dos primórdios de inflorescência iniciam no ciclo de formação, após a poda realizada em setembro, e se completam no início do ciclo de produção com a formação das flores, após a poda de produção entre fevereiro e março. É importante reiterar que o manejo de dupla poda pode impactar negativamente na formação do anlage e no primórdio de inflorescência, resultante do manejo nutricional, hídrico que influenciarão nos eventos bioquímicos, fisiológicos e morfológicos da videira. A formação dos primórdios de inflorescência durante o ciclo de formação determinará o número potencial de inflorescências e futuramente o número de cachos que serão produzidos no ciclo seguinte. O presente estudo busca avaliar a técnica de análise morfológica de fertilidade, assim como quantificar a concentração de reservas de carboidratos nas gemas, fornecendo subsídios técnicos para que os viticultores ajustem a época de poda mais favorável e a carga de gemas no manejo de poda mais apropriado às condições edafoclimáticas locais. Foram coletadas amostras aleatórias em dez vinhedos da região integrada de desenvolvimento do Distrito Federal (RIDE-DF), compostas por quinze sarmentos em cada vinhedo para a análise morfológica das gemas. As amostras incluíram as quinze primeiras gemas francas e foram classificadas em gemas basais (1a a 5a), medianas (6a a 10a) e apicais (11a a 15a). A análise morfológica foi realizada em laboratório, utilizando lupa estereoscópica, e os dados foram categorizados em gemas férteis (mistas), vegetativas, necróticas e ausentes. Nos mesmos vinhedos foram coletadas amostras das três primeiras gemas francas basais dos sarmentos, em dez sarmentos aleatorizados no vinhedo em três repetições. As gemas foram cortadas deixando um centímetro de madeira do sarmento acima e abaixo de cada uma das três gemas francas basais. As amostras de gemas foram secas em estufa (Vulcan, Estufa: Esterilização e secagem 300°C – 150 Litros) à 65oC por cinco dias, moídas em moinho de facas (Marconi – MA 340), com peneira de 2,0 mm. Com as amostras foram realizadas as quantificações de carboidratos seguindo a metodologia (Association of Official Analytical Chemists, para determinação de amido resistente, não resistente e total.) em triplicata. Os dados obtidos serão submetidos à análise de variâ ncia ANOVA e as médias comparadas por teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o software livre Assistat 7.7 pt. Os resultados de morfologia das gemas mostraram que as gemas basais apresentaram uma fertilidade de 77%, com 7,3% vegetativas, 11% necrosadas e 5,3% ausentes. As gemas medianas mostraram um aumento significativo na fertilidade, com 91% das gemas férteis, 2,4% vegetativas, 5,3% necrosadas e 0,9% ausentes. Já as gemas apicais apresentaram uma fertilidade de 79%, com 4,7% vegetativas, 6% de necrose do cone principal e 10% ausentes. A média de fertilidade das gemas foi de 76,53% nas basais, 91,33% nas medianas e 79,2% nas apicais, evidenciando um aumento significativo na fertilidade das gemas medianas. A análise da distribuição das gemas férteis e as condições das gemas nas dez propriedades avaliadas indicam que a adoção de poda longa de produção é o manejo mais recomendado para melhorar a produtividade dos vinhedos na RIDE-DF. Essa abordagem, somada à compreensão dos mecanismos de concentração e disponibilização de carboidratos às gemas, permitirá que os viticultores maximizem a produção, ajustando suas práticas de manejo de poda com base na fertilidade e no acúmulo de reservas das gemas e nas características específicas de cada um dos vinhedos no Terroir do Cerrado de altitude.